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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Oração dos Estressados (Luís Fernando Veríssimo)

Senhor, dá-me serenidade para aceitar as coisas que não posso mudar, coragem para mudar as coisas que não posso aceitar, e sabedoria para esconder os corpos daquelas pessoas que eu tiver que matar por estarem me enchendo o saco.

Também, me ajude a ser cuidadoso com os calos em que piso hoje, pois eles podem estar diretamente conectados aos sacos que terei que puxar amanhã.


Ajude-me, sempre, a dar 100% de mim no meu trabalho: 12% na segunda-feira, 23% na terça- feira, 40% na quarta-feira, 20% na quinta-feira e 5% na sexta-feira.


Ajude-me sempre a lembrar: quando estiver tendo um dia realmente ruim e todos parecerem estar me enchendo o saco, que são necessários 42 músculos para socar alguém e apenas 4 para estender o meu dedo médio e mandá-lo para aquele lugar...


E dai-me paciência para agüentar meu chefe pois se eu pedir força... Eu bato nele!


[Que Assim Seja!]


domingo, 30 de agosto de 2009

No ritmo do banzo

(Andreza Conceição)

Com o coração apertado o sofrimento lateja!

Não, essa não é mais uma de amor.

Olho pr’o lado, só olhos atormentados – o medo. Do outro lado, a boca fala outras línguas ou a mesma. A minha, seca num grito silencioso. Nem todas as bocas gritam o medo. Muitas calam-se.

As mãos, não as sentia mais. Nelas pingava o suor que escorria do corpo. O corpo do outro. Tantos outros que a conta se perdia em meio à escuridão e ao embalo do mar.

O sofrimento se multiplicava em olhos, boca, suor e nos outros, tantos aflitos.

Tensão. Fuga.

Em alto mar são raras as chances de saída. Aqui, elas não existiam. As correntes são fortes e se prendem ao meu grito, ao suor, ao sofrimento de todos. Todos juntos num só murmúrio.

Tristeza e nostalgia – banzo.

Meu murmúrio era calado. Não suportava aquela agonia.

Suor, sangue, sofrimento, murmúrio.

Dor no peito. Tontura. Espuma. A idade já pesa. O banzo se esmera em alto mar. O grito não sai. Todo grito é suportável ao lamento da dor. Mas esse não o era. E eu ali sentado, entre correntes e corpos. Tantos.

Suor, sangue, dor, espuma, murmúrio – morte. Tão lenta quanto o último pingo do suor no seu rosto. Como um bom ser humano, pensei: antes ele do que eu.
Ver sofrimento alheio é imaginar-se livre de algumas dores.

Logo vi escrito na tua face: antes aqui do que lá.

Perguntei-me onde. No ritmo do banzo, a história te conta. A mais corriqueira delas.

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domingo, 14 de junho de 2009

Divã: nacional, bom e barato


Divã.
Consultório. Divã. Lopes. Médico. Monólogo.

Divã. Casamento. Marido. Divã. Filhos. Esposa.

Rotina. Divã. Amiga. Crise. Mãe. Saudades.

Pai. Traição. Divã. Sexo. Nua. Chuva.

Divã. Drogas. Polícia. Divórcio. Divã. Balada. Banheiro.

Cabelo. Divã. Cabeleireiro. Repica. Mudança. Divã.

Divã. Morte. Tristeza. Felicidade. Divã. Lopes.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Jeremias, Profeta da Chuva

Olá, galera,

fui nesse Dia dos Namorados [:)] ver o espetáculo Jeremias, Profeta da Chuva que trata do povo sertanejo que, através da fé, tentam "amenizar" a fome , a escasses e desemprego.

Achei bastante interessante assistir nessa época do ano, em junho, pois a peça traz personagens e cenas típicas do nordeste brasileiro: a feira livre, o forró, os problemas com a lavoura e a pecuária, encenação com bonecos, profetas, repentistas e as rezadeiras, que dão um show a cantarolar as orações nordestinas.


Retoma tbm a história de vida de Jeremias, o profeta que anunciou a destruição de Jerusalém por Nabucodonosor, isso por meio de um ambiente sertanejo o qual percebi que é ao mesmo tempo real, imaginário e místico.

Adorei a peça e recomendo a vocês.

O ingresso é R$ 20,00 a inteira, às 20h, de sexta a domingo. E vai até 16 de agosto.


A minha autencidade de ser é não mentir
para mim mesmo. Será mais sábia a minha decisão de manter minha consciência limpa e tranquila, do que me preocupar com o que pensam, porque o pensam não é problema meu.


*apimentando as más línguas!!!

Não é assim (Fátima Sekai)*


Não tem porquê
A sociedade é quem cria
A polícia é quem manda
O povo oprimido nas favelas é quem move

E você,
Vê tudo de sua tevê
Vê e não sabe viver
Nem criar um cordão sanitário
Para impedir os limpos e certos da CPI de 2001

Não é assim
Tem que reagir
Temos que nos unir
Para atingir
A vitória e seguir
A felicidade que se quis

E eu,
Estou aqui pra mostrar
A minha realidade
Para você e todo mundo parar

Pra pensar
O que será do futuro
Que sonhamos no passado
E destruímos no presente?
Não me siga

Porque assim como você
Eu também estou sem rumo
Levando chumbo,
Cortando os pulsos

No meio dessa civilização
Eu encontrarei o infinito
E eu decidirei meu caminho

(me impuseram o infinito
Ele está: ou no norte ou no sul
Meu fim termina aqui)


*Ana Fátima dos Santos é graduada em Língua Portuguesa e Literaturas pela UNEB. É educadora, escritora, poetiza e orgnizadora do Jornal É na Raça. Estuda questões de identidade, gênero e negritude.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Mona Lisa e sua aura. Aura???




Durante as aulas de Dimensão Estética da Educação, o professor, Edvaldo Couto, falava sobre a questão da aura, tomando com base os conceitos que Benjamin traz. Discutimos sobre a Mona Lisa (conhecida como La Gioconda ou Mona Lisa del Giocondo), obra do pintor italiano, Leonardo da Vinci. Percebemos que nela está posto a ideia da aura, como "uma figura singular composta de elementos espaciais e temporais." (p. 170). Atrela-se a isso, o belo, o intocável, o irreprodutível.


Em "A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica" , no pensamento de Benjamin, a idéia de beleza está relacionada à ideia de "invólucro" que encobre a obra de arte e mantém a essência da beleza inacessível. A beleza da obra de arte, assim, reside em sua essência misteriosa. O autor diz que o belo é o objeto que "permanece misterioso por conta de seu invólucro". A aura equivale a este véu ou invólucro que exprime o belo preservando a inacessibilidade da própria essência da beleza: "o que se atrofia na era da reprodutibilidade técnica da obra de arte é sua aura" (p. 168).


E quanto ao declínio da aura? O valor do culto e de eternidade, onde se encaixam? Mais especificamente me direciono para a obra Mona Lisa.


Abaixo veremos que o culto e a aura, em a Mona Lisa, se perdem com "cópias" ou reproduções voltadas para a sátira.













"Volver" novamente!!!!

Poucos foram os filmes do diretor espanhol, Almodovar, que assisti. Má Educação e Fale com Ela foram os únicos. Mesmo com o pouco repertório de filmes, gosto do seu modo escrachado e debochado de redigir textos.

Ao assitir o filme, Volver, fiquei com um sentimento de "porque não tinha assistido isso antes?" [rsrsrsrs]

O filme conta a história de três gerações de mulheres que sobrevivem ao vento, ao fogo, à loucura, à supertição e, inclusive, à morte. As personagens principais do filme são todas mulheres. Raimunda, vivida por Penélopoe Cruz, é uma mulher casada e mãe de uma filha. Como a família, enfrenta problemas financeiros, mesmo assim Raimunda possui vários empregos e tenta manter a todos.

Seu marido, Paco, é encontrado morto, e Raimunda e sua filha tentam se desfazer do corpo sem deixar pistas. A filha confessa que matou o pai, pois estava bêbado e queria abusar dela sexualmente. A partir de então, Raimunda busca meios de salvar a filha, enquanto que Sole (irmã de Raimunda) viaja sozinha até uma aldeia para o funeral da tia que também havia falecido.
Tive a impressão de está assistindo uma comédia surrealista, pois vivos e mortos convivem sem restrições provocando situações hilariantes ou de uma emoção intensa e genuína. Volver é um filme sobre a cultura da morte.

Percebi que Volver é um filme bastante cativante. A trama se desenrola sem que o espectador saiba exatamente qual deverá ser o seu desfecho e as características de Almodovar vão, pouco a pouco, tomando conta da história.

"Volver" novamente!!!!!!!!
:]

Filmes em sala de aula!!!!

Estou trabalhando com meus alunos o tema "Cultura de comunidades" e "Sofrer preconceito e discriminações". Assisti com eles "Gran Tourino" e "Escritores da Liberdade". Excelentes fimes. Trata dos conflitos, agressões e de como é possível viver em uma comunidade de cultura, costumes e etnias diversas.

"Gran Tourino" tem uma atuação e direção magestral de Clint Eastwood, vivendo o papel de um idoso ainda arraigado de preconceitos e tradicionalismo em seu bairro.

"Escritores da Liberdade" é uma história real, com atuação de Hillary Swank, relata o envolvimento de adolescentes criados no meio de tiroteios e agressividade com uma professora que MUDA o destino e o desrespeito que eles tem com a escola, ligado ao aprendizado sobre a língua e o compromisso com a escrita.
Valeu a pena levar filme, outro tipo de texto, para a sala de aula.
Espero sugestões e comentários sobre filmes!!!
:]

segunda-feira, 4 de maio de 2009

"Tenda dos Milagres" (1)

Tenho uma verdadeira paixão por literatura baiana. Alguns autores, mais contemporâneos, marcaram meu repertório de leitura, dentre eles: Aleilton Fonseca, Adonias Filho, Ildásio Tavares. Mas como não se reportar a Jorge Amado? Um autor que constrói seus romances com elementos folclóricos e populares, envolvendo os costumes afro-brasileiros, a comida típica, o candomblé, os terreiros, a capoeira, mestiçagem baianos? A escolha feita pelo romance Tenda dos Milagres se deve pela contribuição do escritor baiano para a Literatura Baiana o qual descreve características nacionais como outras que se identificam peculiaridades da Bahia, esboçando os costumes, manias, valores e religiosidade do povo.

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Tenda dos milagres traz como enredo a história de Pedro Arcanjo, um mulato de muitos amores, que documentou a cultura popular e provou a ascendência negra da elite baiana do início do século XX. Ele era um antigo bedel na Faculdade de Medicina. Para a época, ele foi considerado um herói, porém pobre e boêmio e assumiu o preço de colocar o "dedo na ferida" dos hipócritas inimigos da mestiçagem.

Como bem relata Jorge Amado, "A estória de Pedro Arcanjo começa muitos anos após a sua morte" (p. 1). As suas obras amargavam o mais profundo anonimato, quando J.D. Levenson, um professor da Universidade de Columbia nos Estados Unidos, descobre a existência de quatro livros escritos por Pedro, que documentavam a formação e miscigenação do povo bBaiano.

Levenson vem ao Brasil levar em frente a sua investigação acerca da vida de Arcanjo. A pesquisa coincide com a festa do centenário de nascimento do baiano. Até então, ninguém da mídia conhecia ou prestigiava a obra do badel. A mídia escrita, falada e televisiva, aproveita-se, então, da situação para ovacionar Pedro Arcanjo como um dos grandes nomes da literatura baiana.

Arcanjo fez a impressão do livro na Tenda dos Milagres, um ateliê de quadros, que segundo seu amigo Budião, fazia "milagres" com quem era pintado, localizado na antiga Ladeira do Tabuão. E foi justamente por causa desse livro que a alta aristocrácia baiana declarou guerra ao bedel.

O que achei fantástico no livro foi o fato de Jorge Amado se apropriar de notícias de jornais/periódicos da época (décadas de 50/60) e resgatar informações sobre a história de Pedro Arcanjo e sobre os seus livros.

Segundo o Jornal Correio de Notícias, um professor renomado da Faculdade de Medicina, "Os negros e mulatos tinham tendência hereditária para o crime e não deveriam conviver na mesma sociedade que os brancos. Deveria o governo deportá-los para a região norte do país, que ainda não havia sido explorada, para eles conviverem entre sí, longe da raça pura..."

O professor Argolo não imaginava, porém, que na Bahia não existe raça pura, pois são todos frutos da mistura das três raças formadoras do Brasil, e a que mais predominava, evidentemente era a negra. Diante disso, Arcanjo provocou a elite, trazendo infomações sobre a linhagem genética das famílias elitizadas da Bahia. Por conta disso, foi preso, teve amigos mortos, teve a capoeira e o candomblé censurados e muitas pessoas foram agredidas pela polícia.

Entre prisões e diversas arbitrariedades, Arcanjo lutou por uma valorização da cultura negra baiana (religião, costumes, dança, arte, festas populares) até o último dia de sua vida. Jorge Amado finaliza o livro dizendo que muita gente crer que boa parte da Bahia foi povoada por Arcanjo, pois misturou o seu sangue com branca, índia, parda, e também uma finlandesa chamada Kirsi, com quem teve um filho.

Pedro Arcanjo morreu pobre e esfarrapado, esquecido por seus inimigos, mas lembrado pelo povo.

Este livro é um dos livros que traz características marcantes de Jorge Amado, como a identidade nacional, os aspectos sociais, religiosos e a cultura popular.
Recomendo a leitura, para quem gosta de literatura e cultura baianas, periódicos antigos e da cultura negra popular.